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O inusitado bairro de Bercy

Descobri o bairro de Bercy em 2009, durante minha primeira viagem a Paris, quando ainda comprava pacotes em agências de viagens e não escolhia meus hotéis. Sem conhecer quase nada sobre a cidade luz, fiquei hospedada no décimo segundo arrondissement, neste bairro inusitado que hoje mora no meu coração.

Bercy Village

No passado, Bercy foi por mais de cem anos, o maior mercado de vinhos do mundo. Sua história de sucesso, que teve início no século XVIII, teve a contribuição de sua localização privilegiada às margens do Sena, que facilitava o escoamento da produção, que mais tarde passou a escoar também de trem pela Gare de Lyon. Outro fator importante foi que antes de 1860, Bercy não fazia parte de Paris, e por estar fora de seu domínio, o vinho comercializado lá não estava sujeito ao pagamento de impostos. A região era cheia de tabernas e pousadas, o que tornava Bercy um ótimo lugar para convivência e festejo. Por volta de 1869 os armazéns foram reformados e ampliados para atender o aumento do consumo de vinho na capital da França. Nesta época, o vinho era engarrafado nos armazéns e recebia algumas misturas para elevar seu nível alcoólico, ou para, por exemplo, “melhorar” um vinho da Borgonha com um Côtes-du-Rhône. Quase cem anos depois, o consumidor se tornou mais exigente e o comércio dos armazéns começou a vivenciar sua decadência. Aos poucos, os armazéns foram fechando e deram lugar a um parque, que conservou alguns pavilhões antigos. A partir dos anos 80, a área desses armazéns foi reestruturada, primeiro com a construção da Arena Bercy, e em seguida com a construção do Ministério da Economia e Finanças. Mais tarde, foi criada uma área comercial e de lazer, com arquitetura inspirada nas antigas adegas e a partir da revitalização dos antigos pavilhões preservados, a Bercy Village.

Parque de Bercy – Foto: lankaparc.over-blog.com

Hoje, o bairro de Bercy tem uma atmosfera alegre e descolada que conta com um enorme parque, uma arena de esportes e shows internacionais, museus e a Bercy Village, que é uma rua de pedestres cheia de restaurantes com mesas ao ar livre, lojas e cinemas. Dos restaurantes, não posso deixar de citar o meu preferido, o The Frog. Na verdade o The Frog é uma micro cervejaria, que produz semanalmente dez mil litros das suas seis cervejas artesanais. Mas o que me faz gostar mesmo do lugar são seus vários ambientes, o cardápio variado e saboroso e o clima animado, principalmente em dias de jogos na TV. Perto de Bercy, há outros lugares interessantes para explorar, como o Coulée Verte René-Dumont, um tipo de “construção” que inspirou o Hudson Yards em Nova York e o Ground Control, antigo armazém que hoje abriga galerias de pequenos artistas, lojinhas de plantas e comidas variadas em um só lugar. O bairro também está pertinho do Sena, onde é possível desfrutar de bons momentos em lindos dias de primavera e verão às margens do Rio.

The Frog Bercy Village

Para uma primeira visita à Paris, dependendo de quanto tempo você tiver para conhecer a cidade, o bairro de Bercy pode não parecer uma boa opção, principalmente pra quem tem a possibilidade de se hospedar em uma região mais central, mais próxima dos principais pontos de interesse, como a Torre Eiffel, o Louvre e a Champs Elysées. Porém, se você dispõe de tempo pra conhecer outras partes da cidade, se busca uma Paris alternativa e um bairro cheio de vida, aproveite! Bercy não irá te decepcionar.

 

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2 comentários

  1. Eu fui!
    Preciso ir de novo, de coração aberto, para ter uma visão melhor de Paris. E no calor, se possível!

    1. Dê uma segunda chance! Eu já estou na quarta chance kkkk